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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Depois de 23 anos como MC, rapper Criolo brilha no primeiro disco de canções

Há algo de novo e muito, muito  bom no hip hop nacional. Provavelmente, desde Marcelo D2 e seu À Procura da Batida Perfeita (2003), um rapper brasileiro não gravava um disco com músicas tão classe A, variadas ritmicamente e bem produzidas como o paulista Criolo (nome artístico de Kleber Gomes), 35 anos, em Nó na Orelha, lançamento independente em CD e vinil.

O cantor e compositor paulista Criolo lança o álbum Nó na Orelha, em CD e vinil
A primeira música, Bogotá, já prende o ouvinte pela letra sagaz, sobre o perigo de se aceitar convite para traficar drogas na rota Brasil-Colômbia. E, principalmente, pela levada afrobeat do arranjo de Daniel Ganjaman, incluindo metais contagiantes, com destaque para o sax tenor de Thiago França e os vocais de apoio Juçara Marçal e Verônica Ferriani.
O refrão, que faz referência a Vou-me Embora pra Pasárgada, famoso poema de Manuel Bandeira (1886-1968),  gruda na cabeça e impulsiona o corpo a dançar: “Vamos embora para Bogotá/ Muambar/ Muambei/ Vamos cruzar Transamazônica/ Pra levar pra freguês/ Vai ser melhor do que em Parságada/ Agradar até o rei”.
Embora o hip hop apareça, em menor ou mais intensidades em faixas como Subirusdoistiozin, Sucrilhos e Lion Man, um desavisado pode atépensar que Nó na Orelha não é um disco de rap, já que a maioria do repertório investe no gênero canção. Ou seja, na combinação de letra, melodia e harmonia.
Criolo não tem dúvidas, é claro. “Tem canções e vários ritmos, mas é um disco de atitude rap. Essa atitude sempre vai existir, às vezes apenas na letra de uma canção, mas vai estar lá”, diz, por telefone, com a autoridade de quem está no movimento hip hop desde os 11 anos.
“Já tem uns nove ou 10 anos que componho canções. Minha mãe cantava em casa e tive o privilégio de meus pais, cearenses com orgulho, comprarem muitos discos. Cresci ouvindo e gostando de fado, seresta, embolado, sambas, canções populares”, explica o rapper nascido em Santo Amaro e criado no Grajaú, onde ainda mora.
Filho de um metalúrgico e de uma mulher simples que foi à luta e se formou em Filosofia, Criolo abandonou as faculdades de Artes e Pedagogia, e trabalhou como vendedor  de vários produtos  - Lojas Americanas, calçados, roupas, etc - , enquanto mantinha a fé no hip hop.
Contudo, diante das dificuldades e mesmo já tendo lançado um disco de rap (que não aconteceu), quase que Criolo não grava Nó na Orelha. Ele já cogitava encerrar a carreira de MC.
Com apoio do centro Matilha Cultural, que viabilizou a produção do disco, o rapper conheceu os produtores Daniel Ganjaman (ex-Planet Hemp e integrante do Instituto) e Marcelo Cabral, que o aproximaram de uma nova turma. Canções de Criolo estarão nos próximos álbuns do produtor Gui Amabis, do projeto 3 na Massa e da baiana Marcia Castro.
Ex-Doido  
Intérprete competente e compositor sensível, como provam composições como a balada soul Não Existe Amor em SP e o samba Linha de Frente (que lembra um pouco Tristeza, Pé no Chão, clássico do repertório de Clara Nunes, de 1973), o artista era conhecido no cenário alternativo do rap como Criolo Doido. Simplificou para Criolo.
“Era muita pretensão me chamar Criolo Doido. Ainda não sou doido o suficiente para merecer um nome artístico assim. Ainda tenho muito o que aprender como cantor e compositor”, afirma modestamente.
Humildade e canja de galinha não fazem mal a ninguém, mas o certo é que um músico que compõe algo tão belo como Não Existe Amor em SP, é talentoso, sim, e merece que um grande número de pessoas conheça sua arte.
Além do arranjo neosoul caprichado, a letra é 10: “Não existe amor em SP/ Um labirinto místico/ Onde os grafites gritam/ Não dá pra descrever/ Numa linda frase/ De um postal tão doce/ Cuidado com doce/ São Paulo é um buquê/ Buquês são flores mortas/ Num lindo arranjo/ Arranjo lindo feito pra você/ Não existe amor em SP/ Os bares estão cheios de almas tão vazias/ A ganância vibra, a vaidade excita/ Devolva minha vida e morra afogada em seu próprio mar de fel/ Aqui ninguém vai pro céu/ Não precisa morrer pra ver Deus...”, diz um trecho.
Bahia  
Apesar do olhar pessimista (ou realista?) sobre sua cidade, coisa que muito paulistano compartilha, o compositor afirma que, dependendo do dia, pode existir amor em SP. A canção é um recorte de uma determinada situação.
Criador da Rinha dos MC’s, evento periódico onde os mestres de cerimônias se enfrentam rimando de improviso, e atuando também como educador em ONGs, o rapper sonha em fazer shows bem produzidos pelo Brasil.
Em Salvador, então, nem se fala: “A minha vontade de cantar na Bahia é uma coisa louca. Não apenas cantar, mas, humildemente, também conhecer os músicos baianos. A Bahia tem talentos musicais demais”. Seja bem-vindo, Criolo.



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